sexta-feira, 12 de novembro de 2010

Uma reflexão a cerca do atendimento perinatal

Mary Zwart está em Curitiba e ontem tivemos nosso primeiro encontro com esta profissional tão apaixonada pelo que faz. Foi nosso primeiro contato com ela, uma pessoa cheia de energia e disposição – características de quem trabalha com a vida e pela vida.


Mary nos trouxe uma reflexão a cerca do modelo de atendimento perinatal, ou atendimento à gravidez/parto. Falou-nos da divisão clássica, elaborada por pesquisadores antropólogos e sociólogos, que classificaram o atendimento perinatal em: tecnocrático, humanista e holístico.

De uma forma muito simples e superficial, poderíamos dizer que no modelo tecnocrático há uma separação corpo/mente, sendo o paciente visto como um objeto e o corpo como uma máquina. No modelo humanista corpo e mente são uma unidade, o paciente é um sujeito relacional e o corpo é visto como um organismo. O modelo holístico passa a considerar, além de corpo e mente, também o espírito; o corpo é portanto um sistema de energia e o foco é a cura deste “todo”.

Após esta contextualização, Mary nos fala da realidade holandesa, de seu modelo de atendimento perinatal centrado na parteira. Uma realidade bem diferente da brasileira! Na Holanda, 1 em cada 3 mulheres têm seus bebês em casa. A gestação é, portanto, um evento mais social e menos médico, em uma proporção de 80% para 20% segundo ela.

A parteira, que estuda 4 anos sobre parto normal, têm autonomia. É ela quem coordena o atendimento à gestante, definindo se esta gestação é de baixo ou alto risco, quais os exames devem ser feitos, se ela pode ou não ter seu filho em casa. Há inúmeros grupos de gestantes, cerca de 30 diferentes tipos de educadores perinatais e as mulheres são incentivas a participarem destes grupos. As parteiras estão fora dos hospitais, inseridas na comunidade e se preocupam em criar vínculo com a mulher durante a gestação. Após o nascimento, a parteira realiza cerca de cinco visitas na casa da nova família para acompanhar o estabelecimento do vínculo mãe/bebê e prestar demais cuidados, exames e procedimentos necessários.

Na Holanda as parteiras nunca foram desinstitucionalizadas. Antes de existirem os médicos obstetras, elas já existiam e sempre foram reconhecidas como uma categoria profissional. Sempre trataram o parto como um evento fisiológico natural do corpo feminino, considerando os aspectos fundamentais para o sucesso de um trabalho de parto: respeito à mulher que está parindo e à vida que está nascendo.

Mary nos trouxe excelentes vídeos de partos realizados por parteiras holandesas, mostrando-nos o que é realmente um parto natural fisiológico. É sempre emocionante ver imagens que mostram a vida sendo respeitada em seu despertar. É sempre comovente ver profissionais que se posicionam no lugar correto dentro da cena do nascimento: o de coadjuvantes. Quem protagoniza este espetáculo são as mulheres, seus bebês e seus familiares.

O evento seguiu caloroso com as perguntas e posicionamentos a cerca de como aproximar nossa realidade brasileira desta trazida por Mary. Como, em nosso país, com uma forte cultura de cesarianas e profissionais e maternidades pouco ou nada preparados para um parto natural fisiológico, viabilizarmos um atendimento humano às mulheres que dão a luz a seus filhos?

Mas como aquela era apenas a primeira palestra de um FÓRUM NACIONAL DE POLÍTICAS DE ATUAÇÃO de Enfermeiros e Obstetrizes na Assistência à Saúde da Mulher e Neonato, a discussão está em curso e com certeza boas conclusões e resoluções surgirão.

Para encerrar este post coloco um vídeo que encontrei na internet e que nos enche de esperanças. Um vídeo totalmente brasileiro, com médicas, enfermeiras, doulas, mulheres, homens e bebês brasileiros. Um vídeo que vem nos dizer “SIM, AQUI TAMBÉM CONSEGUIMOS RESPEITAR A VIDA!”.



2 comentários:

  1. Ai, Inês, que invejinha boa!!! Esse encontro com a Mary deve ter sido tudo de bom mesmo!

    Bem diferente a realidade obstétrica da Holanda e de outros países europeus, né?!

    Pena que estamos aqui inseridas numa cultura tacanha, de gente que insiste em ter preguiça de pensar! Claro que falo da grande maioria, mas não de todos, pois temos muita gente pensante por aí, dando duro pra mudar essa realidade!

    Adorei o videozinho da Dra. Melania, gente pensante e atuante, que faz muito pelas mulheres desse país! E além de fazer, mostra os resultados pra quem quiser ver!

    Bjos e até breve em Bsb!

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  2. Oi Inês!
    Estou em SP p/ participar na terça da palestra c/ Mary, ansiosa!
    Deve ter sido uma delícia esse momento! Foi no Aobä?
    Beijão.

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