Algumas iniciativas de humanização e redução de cesáreas na Saúde Suplementar, era o título deste painel, que para mim, foi o melhor da conferência!
Clara Fróes de Oliveira Sanfelice, enfermeira obstetra do Hospital Paulo Sacramento em Jundiaí/SP, e Gisele Maciel, ginecologista obstetra do Núcleo Bem Nascer de Belo Horizonte/MG, trouxeram suas experiências.
Outra semelhança entre estas duas realidades é a vinculação da gestante ao serviço ou grupo e não à pessoa do médico. No Hospital Paulo Sacramento a gestante é atendida pela equipe de plantão. Durante o pré-natal ela conhece quais os porssíveis profissionais que a irão atender, mas não é paciente de ninguém. Assim, quando chegar ao hospital para ter seu bebê não há porque apressar o processo. Se o trabalho de parto estiver longo, troca-se o plantão e a mulher continua sem pressão e ainda conta com todos os recursos não-farmacológicos para alívio da dor.
Quando o Núcleo Bem Nascer atende uma gestante ela também se vincula ao grupo de profissionais que integra esta equipe. A gestante tem o “seu médico” mas sabe que se ele não puder atendê-la outros poderão, sempre dentro da mesma filosofia de respeito aos seus desejos. Este grupo de profissionais oferece rodas de conversas para gestantes durante o pré-natal, incentivam a elaboração do Plano de Parto, fazem um Chá de Benção! Consideram o verdadeiro significado da palavra obstetrícia em sua atuação, ou seja "ficar parado na frente, observar".
Vale a pena conhecer o trabalho deles: http://www.nucleobemnascer.com.br/.
Por último falou José Fernandes Maia Vinagre, médico pediatra, coordenador da Comissão de Parto Normal do Conselho Federal de Medicina. Nossa, isso existe!!!! Foi exatamente assim que pensei quando ele foi apresentado e começou a falar. Porém logo percebi que esta Comissão pouco tinha a mostrar em ações práticas e efetivas para a mudança do atual quadro de elevadíssimos índices de cesarianas na Saúde Suplementar.
Vinagre nos falou da insatisfação geral com relação a esta realidade. Médicos, hospitais, operadoras, autoridades públicas e mulheres, todos estão se perguntando o porquê de tantas cirurgias cesarianas. Ele reforçou, em vários momentos, a dificuldade de se realizar um trabalho nesta área em função de uma grande resistência da própria categoria médica à mudança. “O trabalho é lento e de formiguinha”, disse ele em diversos momentos.
Ao final, várias pessoas pediram a palavra, inclusive eu. Dentre tantos parabéns a Vinagre pela coragem de estar ali e elogios ao trabalho desenvolvido por Clara e Gisele, falei sobre como se sente uma mulher, usuária da Saúde Suplementar, quando vítima de uma cesárea desnecessária. Emocionada, supliquei ao Dr. Vinagre que não se contentasse em fazer trabalho de formiguinha, pois nós, mulheres, que passamos pela violência de uma cesárea desnecessária, ficamos eternamente mutiladas, com uma dor e uma ausência que nunca passa.
Nossa vida se transforma totalmente, pois o sentimento de perda e ausência é intenso quando, em verdade, tudo poderia ter transcorrido de acordo com o que nossa fisiologia nos capacitou para fazer. Então, quanto mais tentamos entender o porquê desta realidade mais nos deparamos com um modelo de assistência ao parto equivocado e com gerações de mulheres despreparadas e desinformadas quanto à sua capacidade de parir. Aí, após algum tempo, conseguimos transpor, em parte, a dor e nos engajar na luta por uma forma de nascer mais humana e respeitosa.
Mas hoje Dr. Vinagre, talvez eu entenda melhor seu tralho de formiguinha, pois percebo que este é um trabalho além de normas, comissões, leis e resoluções. Estamos trabalhando com a vaidade humana de um lado e a submissão de outro. São crenças equivocadas que se completam e se encaixam em uma relação não saudável que vem se estendendo por décadas e décadas entre médicos e suas pacientes.
O bom seria se conseguíssemos mostrar a uns que não são Deus e a outras que podem ser Deusas! Mas as crenças humanas não se modificam por decretos e resoluções e sim através de experiências e vivências, muitas vezes dolorosas.
Conforme finalizei minha fala naquele breve desabafo, reforço hoje que minhas vibrações e orações são para aqueles que estão em posição de mudar alguma coisa, e minha disposição e energia são para mostrar a todas as mulheres a beleza e a delícia de se parir um filho.
Que cada um siga com seu trabalho de formiguinha, mas com a vontade de um gigante!
(palavras do Dr. Vinagre!!!)
- Notas sobre a Conferência: http://www.gestarpariramar.com/2010/12/notas-sobre-conferencia.html
- Homenagem às mulheres da III Conferência ReHuNa: http://partonobrasil.blogspot.com/2010/12/homenagem-as-mulheres-da-iii.html
- Depoimentos emocionantes da Conferência de Humanização: http://www.blogmamiferas.com.br/2010/11/depoimentos-emocionantes-da-conferencia-de-humanizacao.html
- Nascer Natural / EVENTOS: http://nascerporinstinto.blogspot.com/p/eventos.html
Inês querida, grata por nos adicionar por aqui!
ResponderExcluirSeguem outros links em q falamos sobre este evento incrível:
http://partonobrasil.blogspot.com/2010/11/de-brasilia-para-o-mundo.html;
http://partonobrasil.blogspot.com/2010/11/confiram-dois-lindos-relatos-de-duas.html;
http://partonobrasil.blogspot.com/2010/12/parto-no-brasil-promocao-da-saude_17.html;
http://partonobrasil.blogspot.com/2010/12/outras-vivencias-em-brasilia-durante-o_18.html
Sucesso por aqui, beijo gde!
Oi Ines, muito legal este post, não fui participei desta mesa...mas me serviu de consolo a frase do Dr. Vinagre ... pq agente que está na luta ... principalmente enfermeira e mulher ... ouve e passa por cada situação..que as vezes da vontade de chorar e desistir...rs..Bjos
ResponderExcluirA enfermeira clara froes presta serviços de doula? Ql o contato dela?
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