quarta-feira, 12 de outubro de 2011

A criança e o direito à verdade

Este é o título de um dos capítulos do livro “A maternidade e o encontro com a própria sombra”, de Laua Gutman, editora Best Seller.

Nesta semana, em que encontramos apelo para presentear nossos filhos em todos os cantos que olhamos, pensei sobre o que realmente é importante para uma criança. O que realmente a torna feliz, tranquila, confiante, segura. Foi então que me lembrei deste extraordinário capítulo do também extraordinário livro de Laura e concluí: nada é mais precioso a uma criança do que a verdade.

A verdade aqui considerada refere-se aos aspectos exteriores, de tempo e espaço, e também aos aspectos interiores, aquilo que acontece comigo, que sinto, que desejo, que temo. A criança, e em especial os bebês, precisam conhecer a nossa verdade, ainda que ela não seja bela, pois só assim conseguem separar-se de nós e serem livres para a construção de seu próprio eu.

Tudo isso pode parecer lógico e até mesmo banal, mas é extremamente complicado pois não estamos acostumados a ir ao encontro de nossa verdade. Nesta linha de raciocínio, criar um filho requer um trabalho de autoconhecimento inadiável. É imprescindível que eu me conheça e tenha acesso à minha verdade para poder comunica-la a meu filho, preservando-o assim da angústia e do medo que estão em mim. Quando isso não acontece o filho produz o que a psicanálise chama de sintoma, e sofre.

“... o bebê nos obriga a nos conectar com a verdade, porque, quando não é assim, a materializa, ‘expressa-a’ no plano físico, vive-a em seu corpo.” Laura escreve ainda: “As crianças estão tão próximas de nossos corações, tão unidas à verdade íntima, que se transformam em tradutoras exatas. Vale a pena lhes dar atenção ou ao menos nos fazer as perguntas pertinentes. Só quando sabemos o que acontece conosco, ficamos em condições de contar a verdade a nossos filhos.”

Caras mães, o trabalho não será fácil, mas imensamente recompensador. O benefício é duplo pois somos nós e nossos filhos a sentir a liberdade de se conhecer a verdade!

Laura Gutman não nos deixa no desamparo diante de tudo isso. Ela nos dá dicas e caminhos para A BUSCA DA PRÓPRIA VERDADE.

“A verdade é sempre precedida da palavra ‘eu’. Porque a verdade é pessoal, refere-se ao que acontece comigo, ao que sinto, ao que desejo. Não é uma opinião, nem está subordinada ao que é certo ou errado.”

“A busca da própria verdade precisa de apoio. Creio que essa é a essência de qualquer iniciativa terapêutica ou de outra aproximação do campo espiritual de cada um. Muitas vezes, é indispensável pedir ajuda a um profissional,...”.

No dia-a-dia tenho tentado seguir o caminho mostrado por Gutman. Vezes há que consigo, e então me deparo com a maravilha e eficácia do método. Uma sensação de satisfação me invade ao perceber uma imediata mudança de atitude em minha filha. É como se ela disse “Ah!!! Agora entendi!!! Porque você não me falou antes!!!”.

O dizer a verdade à criança em nada tem a ver com privá-la da fantasia, do mundo das fadas e dos reinos de príncipes e princesas, tão necessários a ela. Dizer que a Fada da Noite passa em seu quarto para ver se está em sua caminha, ou que em sua boca mora uma coruja e precisamos manter sua casa limpinha, e ainda que são os anjos que acendem as estrelas, não tem nada a ver com o direito à verdade.

A criança tem direito à verdade e ao mesmo tempo necessita da fantasia. Saber colocar cada coisa em seu lugar cabe a nós, adultos. O esforço valerá a pena, teremos filhos mais saudáveis física e emocionalmente!