sábado, 25 de setembro de 2010

Mas afinal, o que é uma Doula?



A palavra doula vem ganhando cada vez mais popularidade. Muitos ainda acham-na estranha, outros realmente não a conhecem. Fato é, que esta palavra de origem grega, cujo significado é “mulher que serve”, começou a ser largamente utilizada dentro da humanização do nascimento na década de 90 por dois pesquisadores americanos, Klaus e Kennell.

Atualmente a doula vem ganhando popularidade em nosso país, sendo tema de uma matéria de mais de 20min no programa Mais Você no último dia 11 de agosto (Assista matéria aqui), e passando a integrar o tradicional Dicionário Aurélio em sua 5ª edição revisada e ampliada (Veja matéria aqui).

A doula existe, no cenário do nascimento, desde que existe o próprio nascimento. A mulher que está parindo sempre esteve acompanhada por outras mulheres, e é comum vermos representações de cenas de partos da idade média, ou mesmo mais antigas (da época do Egito e da antiga Índia), nas quais há mulheres apoiando a parturiente. Essas mulheres que apóiam, seguram a mão, olham no olho, buscam água, secam o suor, abraçam..., são as doulas.

Companheiras e servidoras fiéis daquelas que estão dando à luz, essas mulheres desapareceram da cena do parto por muitos e muitos anos. Quando o nascimento passou a ocorrer nos hospitais e não mais em casa, achou-se que essa figura não era mais necessária, já que o obstetra passou a cuidar de todo o nascimento, o pediatra a cuidar do bebê e as enfermeiras se responsabilizavam por providenciar tudo que fosse necessário a eles.

E aconteceu que por muitos e muitos anos as mulheres ficaram sem ser cuidadas durante o nascimento de seus filhos!

Hoje, muitas grávidas, apesar de estarem em centros urbanos e ganhando seus bebês em hospitais, desejam vivenciar a experiência de dar a luz a seus filhos de forma ativa, consciente e prazerosa. Neste contexto aquelas mulheres que apóiam voltam à cena do nascimento, com o nome de doulas, comprovando que são de grande importância neste momento mágico e intenso da vida de qualquer pessoa.

A doula não irá querer que você tenha um parto normal, ou na água, ou que não tome anestesia, ou que fique de cócoras, ou qualquer outra coisa. A doula apenas deseja poder proporcionar à mulher uma experiência de parto positiva, contribuindo desta forma para o nascimento de uma mãe mais segura, gratificada e orgulhosa da sua experiência de parir um filho.

A doula é, portanto, quem cuida da mulher que está parindo. Ela cria vínculo com essa mulher, estabelece uma relação de confiança e tem plena convicção na capacidade fisiológica do corpo feminino de dar a luz a seus filhos. Ela entra como a mão amiga e passa a incentivar e apoiar toda e qualquer decisão informada da mulher.

É importante compreender que a doula não decide nada, nem antes e muito menos durante o nascimento. Ela trabalha com um suporte informativo prévio onde busca passar à gestante todo conhecimento que ela precisa para tomar suas decisões. E, durante o trabalho de parto em si, ela trabalha com um suporte físico e emocional, utilizando técnicas diversas, sempre não farmacológicas, para alívio de desconfortos e busca de serenidade.

A figura da doula está relacionada ao parto via vaginal porque uma mulher que tem uma doula torna-se mais confiante, mais ativa dentro do trabalho de parto, passando a trabalhar a favor de seu corpo e do nascimento de seu filho. Então, ter um parto via vaginal, sem tantas intervenções e sofrimento, mais rápido e satisfatório, passa a ser uma realidade e não um sonho distante, quase impossível.

Vai parir? Contrate uma doula!!!

Conheça aqui como se estrutura nosso atendimento

sexta-feira, 10 de setembro de 2010

As dores do meu parto

O relato do meu parto foi feito em dezembro de 2009, um pouco antes do aniversário de um ano de minha filha. Foi muito difícil escrever sobre essa vivência e demorei muito para conseguir fazê-lo. Hoje decidi postar esse relato porque tenho acompanhado na lista doulasbrasil alguns depoimentos que mostram exatamente isso: mulheres tentando parir seus filhos e pessoas fazendo de tudo para atrapalhar.  E para ilustrar essa postagem coloquei uma imagem pela qual sou apaixonada. A amamentação foi o que, aos poucos, me relembrou a magia de ser mãe e mulher!

"Laís querida, obrigada por me transformar na pessoa que sou hoje e me motivar a ser cada dia melhor. Te amo muito!"



Às vésperas do aniversário de um ano de minha filha, decidi escrever sobre esse momento tão significativo de nossas vidas e que ainda me provoca lágrimas nos olhos: o parto.

Desde que descobri que estava grávida decidi que queria parto normal. Uma decisão que fugia totalmente ao meu ambiente e ciclo de convívio. Nascida de cersariana, beneficiária de um plano de saúde particular e cercada de mulheres que nada sabem sobre dar a luz a um filho, iniciei uma busca, quase uma investigação, sobre o que é o parto normal (natural, humanizado, ativo.....) e o que pode ser feito para favorecer esse acontecimento.

..... e então se transcorreram os nove meses mais maravilhosos de minha vida....

Minha gestação foi o que se considera “tranqüila”. Aos poucos fui incorporando à minha rotina aquilo que ia descobrindo ser favorável ao parto normal. Comecei com as aulas de yoga para gestante e estes eram meus momentos preferidos, onde eu tinha o apoio e a orientação que queria , onde era encorajada a acreditar na minha capacidade de mulher de parir.

Li alguns livros sobre o tema e visitei alguns sites, poucos na verdade e superficialmente, porque nunca fui muito paciente com a internet.

A cada consulta com minha obstetra conversava sobre suas convicções de parto normal, tirava algumas dúvidas e falava sobre como eu queria que fosse o meu parto. Ela via que eu estava informada e bem decidida, e se dizia favorável ao parto normal sem muitas intervenções e que eu era uma gestante tranqüila (na verdade um casal grávido tranqüilo, porque o Márcio, meu marido, sempre me acompanhava).

Eu estava realmente muito feliz com a minha gestação e com a minha decisão. Acredito que a oportunidade de parir é uma benção de Deus a nós mulheres e que a natureza não iria errar tanto em nos fazer sofrer para poder gerarmos uma vida. Realmente acredito que tudo depende da forma como você encara as coisas. Lembro que minha professora de yoga fazia questão de dizer que “não necessariamente há dor durante uma contração e caso haja que ela seja bem vinda pois significa que seu bebê está cada vez mais perto de você”.

Curti muito minha gestação e conversava muito com minha filha, falava a ela das minhas intenções de parto normal e de como ela seria bem recebida quando decidisse chegar. Acredito que para o bebê o nascimento é um momento muito difícil, infinitamente mais difícil do que para nós, mães que estamos dando à luz. Isso, não apenas no que se refere ao aspecto físico, mas e principalmente, no que se refere ao aspecto espiritual daquela nova vida. Isso também me levou a querer não apenas um parto normal, mas que minha filha pudesse ser recebida e tocada por nós (pais) quando nascesse, que não fosse tudo feito de forma mecânica e invasiva.....

Bem, então quando eu estava com 38 semanas minha médica soltou um “se você fosse fazer uma cesariana já poderíamos marcar para esta semana”. Aquilo soou muito mal aos meus ouvidos, mas..... tentei não dar importância. Ela sabia que eu QUERIA e (só queria) parto normal.

A partir deste momento todas as pessoas que te encontram já te olham com cara de “o que essa criatura faz com essa barriga deste tamanho?” Minha barriga estava muito grande, mas muito grande e eu tinha engordado apenas 11kg! Você já começa a se sentir muito grande, mas eu estava curtindo, ADORAVA e estava disposta a esperar o tempo que fosse necessário.

E foi necessário esperar bastante... Nas consultas, minha médica começou a dizer que o bebê estava encaixado mas não tinha descido, estava alto. Minha professora de yoga falava para eu conversar com minha filha e incentivá-la a descer e eu sempre fazia isso nos momentos de relaxamento, dizia que eu estava pronta para recebê-la.

Fechamos as 39 semanas e nada... tudo na mesma!

A esta altura minha obstetra cogitou a possibilidade de fazer uma cesária, eu perguntei por quê?? Eu estava ótima e o bebê também, tudo estava bem em todos os exames. Lembro dela perguntar porque eu não queria fazer cesariana, se tinha medo. Eu respondi que para mim o problema não era fazer uma cesariana, que não tinha medo de cirurgia. Para mim o problema era não fazer o parto normal, não passar por esse momento que eu considerava maravilhoso e único, algo só meu, que ninguém poderia vivenciar no meu lugar.

Bem, e nessa consulta ela viu que eu não era apenas mais uma querendo parto normal. Eu não estava muito disposta a negociar. Então ela disse que eu estava muito tranqüila e bem informada e que neste caso poderíamos esperar mais uma semana.

Fechamos 40 semanas e ...NADA....

Eu continuava ótima e o bebê também. A essa altura toda minha família e a do meu marido, que não moram em Curitiba, já estava aqui e acho que apenas isso me pressionava um pouco. Todas aquelas pessoas aqui, que vieram de tão longe, já estavam ha praticamente 10 dias e nem sinal de o bebê nascer.

Então tivemos uma consulta e a médica quis marcar a cesariana, e eu comecei a chorar, era uma quinta-feira. Acho que ela se impressionou com minha reação e também ficou emocionada, disse que então esperaríamos até a próxima terça-feira e aí, se não mudasse o cenário marcaríamos a cirurgia.

UFA!!! Ganhamos alguns dias!!!

Quando essa consulta terminou passei a viver uma constante espera. Esperava que a qualquer momento uma dor diferente viesse, que alguma coisa diferente escorresse entre minhas pernas, mas tudo era tão tranqüilo, tão normal.... nenhum desconforto a não ser o da pressão de ter que acontecer alguma coisa até terça-feira.

E quando amanheceu segunda-feira para minha surpresa não tinha sentido NADA de diferente. Chamei meu marido para conversar e disse que não queria marcar cesariana nenhuma, que sabíamos que nossa filha estava bem e que poderíamos esperar até 42 semanas. Pedi que ele ligasse para a médica e falasse que não iria marcar nada para terça-feira. Ele fez isso! Ela então pediu que mesmo não sendo para fazer a cirurgia fôssemos no hospital no dia seguinte para fazermos um exame mais detalhado do bebê.

Lembro de naquela segunda feira ter feito acupuntura e pedi ao meu acupunturista para apenas relaxar pois estava estressada com aquela pressão de tem que nascer.....

E então para minha surpresa após o almoço comecei a sentir uma coisa diferente. Pensei “hummm....isso está parecendo novo... nunca senti antes, então acho que pode ser um bom sinal”. Fiquei bem quieta, não falei para ninguém, mas pedi ao meu marido que não voltasse para o escritório e ficasse comigo. Durante a tarde aquilo, que não quero chamar de dor, pois para mim era algo tão desejado, começou a ficar mais forte e quando vinha tinha que ficar de pé e andar. Comentei então com meu marido, assim com muita naturalidade...”acho que comecei a sentir as tais contrações” e pedi que ele também ficasse bem quietinho. Toda a nossa família estava conosco e eu não queria criar falsas expectativas em ninguém.

Naquele dia todos tinham combinado de ir assistir ao Auto de Natal, uma encenação do nascimento de Jesus muito bonita, e então quando deu 19h meu marido foi levá-los e eu fiquei sozinha em casa. Nesta hora percebi que realmente o que eu sentia só podia ser contração. Quando aquilo vinha eu precisa para, me agachar e me concentrar totalmente, passou a ser muito intenso, e eu estava MARAVILHADA!!!!! Quando o Márcio chegou começamos a marcar os minutos e então vimos que elas estavam com intervalos regulares e rapidamente se intensificando.

Quando deu 21h30 ele falou “vamos para o hospital” eu disse que não, que iríamos bater lá e voltar eu estava bem ainda e a notícia que tinha era de que mulher em trabalho de parto urra de dor. Ele insistiu pois as contrações estavam de 7 em 7 minutos. Então tá, peguei minha bolsa (só a bolsa mesmo pois tinha certeza de que ia bater no hospital e voltar) e nesse meio tempo nossa família voltou e minha mãe foi conosco.

No carro eu pensava “ooobbbbaaaa a noite vai ser animada, finalmente chegou a hora”! Sabia que estava em trabalho de parto, mas estava bem e feliz, preparada para voltar para casa e encarar horas de caminhadas, respirações, duchas, massagens... tudo aquilo que sonhava fazer por mim e meu bebê.

Quando chegamos ao hospital o médico de plantão me olhou e disse para meu marido “acho que ela ainda não está em trabalho de parto, pois está caminhando e conversando normalmente, deve ser o que chamamos de falso trabalho de parto, mas vamos examinar”.

Para nossa surpresa eu estava com 5 de dilatação e ele disse para já ficar internada. Ligou para minha médica, o que era procedimento de rotina, e disse algo que ficou gravado em mim “mas o bebe ainda está alto”. Tudo bem, eu pensei, eu estou bem e agüento até ele descer.

O Márcio foi cuidar da papelada da internação e minha mãe ficou comigo. Sempre que vinham as contrações eu fazia as respirações que treinei nas aulas de yoga e estava bem tranqüila.

Então o Márcio chegou com a enfermeira e uma cadeira de rodas para subirmos ao centro obstétrico. “Para que essa cadeira?” eu pensei, e disse a ela que iria caminhando. Me sentia ótima, confiante, forte, disposta. Não é que eu não sentisse dor, é que eu estava tão feliz que queria participar ativamente de tudo.

Então subimos todos, a enfermeira, minha mãe, o Márcio e eu. Quando chegamos na porta do centro obstétrico a enfermeira disse que o Márcio não poderia entrar e eu fiquei irritadíssima pois o combinado era que ele entraria comigo. Eram 11h da noite, não tinha mais ninguém naquele hospital e ela veio com uma conversa de que a médica teria que autorizar porque a presença dele poderia constranger outras gestantes..... Ahhhh aí eu já me armei toda para a briga, mas antes que pudesse falar o Márcio percebeu tudo e falou para eu entrar que ele ligaria para a Dra e logo entraria.

Realmente esse pessoal de hospital não entende nada de parir um filho.... Todo o encanto e ternura deste momento começam a sumir quando você se depara com aquele ambiente hospitalar, aquela camisolinha ridícula que só mesmo com anestesia geral para você usar, e aquelas pessoas te olhando sem o menor acolhimento, querendo te dizer tudo o que você deve fazer, como se você fosse um ser sem vontade e sem desejos.

A partir daquele momento me deparei com a frieza com que o sistema de saúde brasileiro trata o nascimento de um filho e fiquei sozinha naquela sala horrível, com uma roupa ridícula e uma touca mais ridícula ainda. Mas tudo bem, eu pensei, minha querida professora de yoga tinha dito que isso iria acontecer: “Querida, esteja preparada para ficar sozinha” e então comecei a conversar com minha filha, caminhava e dizia a ela que viesse em paz pois a mamãe estava pronta para recebê-la, que tivesse coragem pois iríamos ajudá-la no que fosse preciso, que era hora de trabalharmos juntas! E assim fiquei até que apareceu uma enfermeira e perguntou se eu estava bem, disse que era melhor eu deitar....... Ai ai ai, elas realmente não conseguem nos ajudar muito!!!!

Pedi para pegar minha meia porque não ia sentar e o chão estava gelado para ficar andando com aquele sapatinho de TNT (ridículo!!!). Ela disse que não podia, eu insisti, ela disse que não podia... eu insisti DE NOVO. Então fomos até a salinha onde ficaram minhas roupas e pude ver minha mãe, o Márcio e a Dra conversando, ela tinha acabado de chegar. Dei um sorriso e sinalizei que estava tudo bem, e gritei que era para o Márcio entrar!!!

Quando eles chegaram à super sala de parto eu continuava andando e respirando, andando, respirando e conversando com minha filha.... já era quase meia noite e ela fez o exame de toque... 7cm de dilatação mas o bebê ainda estava alto!!!

Então ela sugeriu que eu fosse para a ducha, lá fomos nós. O Márcio ficou lá, o tempo todo comigo, foi bem relaxante e alivia muito a dor, mas teve uma hora que pensei “Meu Deus, quanta água, que desperdício..... acho que vou sair....” Aí logo a Dra chegou, então me sequei e me deitei de novo para mais um exame..... 8cm. Pedi a ela para andar mais um pouco, é extremamente doloroso ficar deitada ou parada, ela disse que tudo bem, a dilatação estava indo super bem, mas o bebê ainda estava alto e o trabalho de parto ainda poderia demorar umas 4h (isso para mim não era nenhum problema!!!).

Minha filha pode demorar o tanto que quiser, eu pensava, eu estou preparada! E ali ficamos eu e o Márcio, não tínhamos as músicas nem os óleos que eu havia escolhido, muito menos uma luz amena e um ambiente tranqüilo como imaginei, mas tudo bem, nossa filha estava chegando, nós estávamos juntos e bem, e isso fazia o momento mágico.

Lá vem a Dra de novo para fazer outro toque (para que tocar tanto, né?!?!), 9cm de dilatação só que a bolsa não estourou e o bebê continua alto. Ela então mede os batimentos cardíacos e dá baixo (não lembro quanto), mas eu estava tendo contração!!!! E lembro de ter lido que durante a contração o batimento do bebe diminui!!!! Poxa, será que ela não sabe disso!!! Então falei, e ela disse que estava muito baixo mesmo para ser durante uma contração e que minha filha deveria estar em sofrimento.... Mas insisti para ela medir de novo e é óbvio que ela mediu e deu normal!!!!!

Lembro de nesse momento ela começar a se dirigir mais ao Márcio para explicar o que estava acontecendo. Eu estava muito concentrada em minhas respirações e convicta de que tudo estava bem, era só deixar a natureza seguir seu fluxo. Mas ela veio com uma história de que a diferença entre a medição durante e fora de uma contração não poderia ser tão grande...... e que seria melhor fazer uma cesária.

Lembro que senti uma profunda frustração e me dei conta de que ela não tinha noção do que significava para mim aquele momento. Tá, eu falei, não dá para a gente tentar nada antes, eu não quero uma cesariana!!!! Dentro de mim algo dizia que a Laís (minha filha) estava bem, nós estávamos bem!!!!!.

Então ela quis fazer um outro toque, disse que já estava totalmente dilatada, o colo estava ótimo, que estava tocando na membrana e poderia até romper a bolsa... Só que enquanto ela me examinava e falava, na verdade ela já estava era rompendo a minha bolsa..... Fiquei muito chateada com aquilo, mas se era a forma encontrada para tentarmos evitar uma cirurgia tudo bem.

Bem, neste momento, comecei a sentir as verdadeiras dores do meu parto. Quando ela rompeu a bolsa, senti a dor de não ser respeitada. Não estava convencida de que aquele procedimento era necessário. Meu marido me chama de teimosa, mas eu tinha estudado e sentia que estava tudo bem. Poxa, a barriga é minha e o bebê está lá dentro, será que minha intuição não conta???. Não é que eu queira saber mais que a médica, mas eu também sei alguma coisa e confio nisso, mas isso não é levado em consideração e nem respeitado. Sabia que um parto deve ter o mínimo de intervenções possíveis e aquela era uma tremenda de uma intervenção!!! Romper a bolsa!!!!

E então, quando a bolsa é rompida o líquido está um pouco escuro, era mecônio, o bebê tinha feito cocô. Pronto, dá para imaginar como as coisas transcorreram a partir daí. A médica chamou meu marido, mostrou o líquido e disse que o bebê estava em sofrimento e precisávamos fazer uma cesária urgente!

Só um pouquinho doutora,eu ainda tive a capacidade de dizer, eu sei que o mecônio isoladamente não significa muita coisa e ainda existem graduações para essa tonalidade escura do líquido e pelo que eu posso ver ele não está tão escuro assim.

Nessa hora ela, a enfermeira que estava na sala e meu marido me olharam com uma cara assustada como se eu quisesse matar minha filha.... E aí aquelas dores (da falta de respeito) começaram a ficar cada vez mais intensas e se somaram a outra dor, a da frustração. A Dra se defendeu, disse que o que eu falei não era bem assim e que precisávamos fazer a cirurgia urgente.... Meu marido veio para perto de mim e me disse que eu tinha tentado tudo que podia, mas as coisas aconteceram assim, agora era hora de aceitar e confiar na médica.

Nossa, quanta, mas quanta dor eu senti nessa hora. Uma dor desesperadora!!! Me sentia impotente, desrespeitada, derrotada, incapaz, comecei a chorar sem parar, me sentia uma fracassada!!! Eles quiseram me levar deitada para a sala de cirurgia.... OPA... sai pra lá que eu não estou doente, eu pensei. Me levantei e quis ir andando, e chorando, chorando muito!!! Meu marido estava comigo e só pedia para eu ficar calma, que eu tinha feito tudo o que podia, que eu estava de parabéns, que era para eu ficar feliz pois nossa filha estava chegando....

Como eu gostaria de me sentir assim, mas infelizmente não era isso que sentia! Sentia que me roubavam uma oportunidade abençoada de participar ativamente da chegada de minha filha ao mundo e isso me doía muito, mas muito mesmo!! Eles todos me roubavam descaradamente algo tão valioso, impossível de ser mensurado, e eu ainda saía como a vilã da história, todos me olhavam com uma condenação no olhar (ou eu que me sentia condenada, já não sei.....)

Na hora de entrar no centro cirúrgico o anestesista ( meu Deus!!! Eu achei que jamais fosse precisar dele) falou para o Márcio esperar do lado de fora. AHHHH NÃO, ele entra se não eu não vou!!! Espera aí, vocês me roubam um momento mágico e único em minha vida e agora ainda querem que meu marido não participe!!! Aquelas pessoas todas me assustavam, tratavam tudo de forma tão impessoal, conversavam entre si como se nós (eu, minha filha e meu marido) fôssemos as figuras menos importantes naquele cenário.

Então empaquei ali na porta com meu marido e comecei a chorar mais forte ainda, sentindo aquela dor estranha, para a qual eu não estava preparada. Não havia alívio para aquela dor que sentia, não tinha posição, respiração ou recurso que ajudasse, era desesperador. E o anestesista me chamando, dizendo que tinha que ser rápido para eu entrar logo, mas eu não quero, eu não quero entrar aí, que droga, será que ninguém pode me dar um tempo, pelo menos para eu digerir essa idéia!

Aiiiii, mais uma vez aquela dor de não ser respeitada, ninguém se compadecia do meu sofrimento. Pode parecer exagero falar assim, mas não é. Eu realmente sofria muito naquele momento e ninguém foi acolhedor, ninguém parecia me entender ou querer me entender, todos só queriam correr e fazer tudo mecanicamente como já estão tão habituados!

Meu marido tentava me animar e me consolar, mas acho que ele também estava com medo e por isso também tinha pressa. Pressa que eu aceitasse logo entrar naquela sala com aquele anestesista e fazer logo essa cirurgia para que nossa filha nascesse logo e tudo terminasse logo.

Fui... me sentia derrotada, vencida, humilhada, era uma dor horrível. Quando entrei naquele centro cirúrgico todo e qualquer resquício de magia, beleza e serenidade que imagino que deva envolver um nascimento desapareceram!!! Tive que tomar anestesia, a maior de todas as dores pois era a sinalização mais evidente de que a partir daquele momento eu não significava e não podia mais nada!!! Dar a luz a minha filha já não me pertencia mais! Eu era uma mera máquina orgânica a qual seria aberta e de onde eles retiraram uma outra máquina, só que uma miniaturazinha!

Para a coisa ficar ainda menos humanizada eles sobem um pano na nossa cara e te mandam ficar com os braços estendidos (ainda me embrulha o estômago de lembrar)! É tanta luz, tanto pano verde, tanta gente que você nunca viu, tanta conversas entre eles, tanta impessoalidade, tanta falta de respeito, tanto desconhecimento do significado no nascimento! Minha vontade era gritar, mas eu já não conseguia mais, e então senti a dor da impotência. “Se pudesse sairia correndo e ganharia minha filha sozinha, no meio do mato”, eu pensava. Sozinha nada!!!! Nenhuma mulher está sozinha na hora de parir, todas as forças da Natureza estão ao seu lado, há uma falange de bons espíritos a auxiliá-la, tudo conspira a seu favor, mas infelizmente nosso sistema de saúde não comunga desta opinião.

Só recobrei um pouco de paz quando vi o Márcio se aproximar de mim, deu um segundo e ele falou, NASCEU. Ai meu Deus, como eu chorei... era um misto de vitória com derrota, de alegria com tristeza, de mágico com mecânico!!! Trouxeram nossa filha para nós e eu não conseguia falar nada só chorar, chorar e chorar. Meu marido então não tirou mais a mão dela, eu não conseguia segurá-la, levá-la ao meu peito e dar-lhe de mamar como tinha imaginado. Minha filha, concebida e gerada por mim, mas que não pude vê-la chegando ao mundo, nem meu marido ajudando a cortar o cordão como era meu desejo e isso ainda me doía muito, mas tinha também a gratidão de saber que ela estava ali.

Foi tudo tão mais rápido e doloroso do que eu tinha imaginado. É muito difícil você falar sobre isso porque todos usam o jargão “o importante é que o bebê está bem, ela está aí, viva, linda, saudável, é isso que importa”. Depois de passar por toda essa frustração você ainda tem que se contentar com essa explicação!!! Parece que continuar a se indignar e questionar é ingratidão com a vida que me deu uma filha tão maravilhosa. Mais uma vez o sistema de saúde e a nossa sociedade te levam a crer que você tem que aceitar, que é assim mesmo, parto normal é muito difícil, quase impossível de acontecer, é muito arriscado e perigoso.... Bem, tudo isso causa uma tremenda confusão emocional em nós mães, que já não sabemos mais o que sentir ou como pensar. Não é à toa que demorei quase um ano para conseguir falar abertamente sobre isso.

Continuo a acreditar que meu parto poderia ter sido normal e que minha filha estava bem, prova é que a tal nota que eles dão ao bebê quando nasce (APGAR) foi 9 e9. Dentro de toda a confusão de sentimentos que se apoderaram de mim a única coisa que não consegui sentir foi raiva da minha médica. Sei que ela fez o que pode, o que sabia o que conseguia fazer. Verdade seja dita, o problema é justamente esse, nossos médicos (salvo algumas exceções, que eu mesma ainda não conheço....) não sabem ajudar uma mulher a parir. Eles não aprenderam isso e nem são incentivados a tal. Eles não conseguem deixar que a natureza faça seu trabalho, que a mulher assuma o controle de seu corpo e que a vida surja de forma natural. Sou grata a minha médica por ter me tirado minha filha, mas não me contento mais com o que ela tem a me oferecer, nem ela, nem os outros médicos, nem as enfermeiras, nem os hospitais.

Hoje consigo dizer, ainda em voz baixa, que meu parto foi uma experiência dolorosa e traumática, mas nem por isso minha filha deixou de ser a coisa mais linda que aconteceu na minha vida! Fiz este relato, em primeiro lugar por mim, para me ajudar a superar essa cicatriz que ainda dói, e também para exemplificar às outras mulheres grávidas o quão árdua é a luta das que querem parir seus filhos. Que elas não se deixem iludir como eu, achando que seus médicos realmente são favoráveis ao parto normal e que os hospitais hoje estão preparados para isso. Que elas sejam fortes e decididas, que busquem se informar, que façam yoga, tenham uma doula e não precisem de hospitais para terem seus bebês.

domingo, 5 de setembro de 2010

O nascimento reduzido a um time de futebol!!!!

A reportagem exibida no Jornal da Globo sobre o centenário do Corinthians inspirou as reflexões deste post. Veja a matéria no link abaixo e boa leitura, ou melhor, boa reflexão!
Vídeo: Família marca nascimento da filha para o dia do centenário do Corinthians


A cesariana, criada para salvar vidas de mães e bebês em risco, é usada hoje descontroladamente, para atender a caprichos, gostos e preferências da sociedade.
Ora convém mais ao médico, ora ao hospital, ora aos pais ou à família... E o bebê, onde fica nessa história? É como se para ele não fizesse diferença, é como se na verdade ele não fosse um bebê e sim um bonequinho, um objeto.
Sim, porque são os objetos que se destinam a nos servir e atender nossas preferências. São eles que nós compramos, usamos, exibimos e jogamos fora. São os objetos, os desprovidos de qualquer emoção ou sentimento, mas não os bebês!
Os bebês são seres humanos que vêm povoar nosso planeta, conviver conosco! Eles ouvem, enxergam, sentem e após nove meses de intenso trabalho de formação no ventre de suas mães eles só precisam ser respeitados e amados. Respeitados enquanto individualidade que é fisiologicamente apta a escolher o momento que deseja nascer e amados independente e acima de qualquer condição, seja a de ser corintiano ou não, saudável ou não, menina ou menino. Fazer festa para receber um bebê realmente é muito bom e eles adoram chegar ao nosso mundo em festa! O melhor de tudo é que não precisa muito para organizá-la, basta silêncio, pouca luz, temperatura quentinha, bons pensamentos e muita, mas muita harmonia.
Realmente essa não é uma festa na qual se convide um “bando de loucos”!
É uma pena que ainda não consigamos ver o nascimento dessa maneira!
É uma pena que mulheres ainda se permitam ser apenas objetos de procriação e não valorizem a fantástica transformação que o parir de um filho pode lhes causar!
É uma pena que médicos ainda acreditem “trazer” a vida ao mundo, quando a vida explode por si, e são a mãe e o bebê os atores desta explosão!
É uma pena que em um país onde o índice de cesarianas é três vezes maior que o recomendado pela OMS, a imprensa busque notícia em fatos tão tristes e que incentivam essa nossa dramática realidade!
É uma pena que tudo isso passe despercebido para a maioria dos brasileiros, apaixonados por futebol e tão pouco apaixonados pelo nascimento!

quarta-feira, 1 de setembro de 2010

Manifesto pelas Mães



O Grupo Cria é um grupo de mulheres que se uniram para lutar pelo seu direito de exercerem a maternidade de forma consciente. Elas criaram um manifesto lindíssimo que está descrito abaixo para vocês conhecerem. Quem se identificar pode entrar no site e também assinar o manifesto.
Boa leitura!!!


MANIFESTAMOS PELAS MÃES
Mãe que dá o melhor de si e convive com a cronica sensação de que nada é o suficiente.
Mãe de carne, osso e vísceras que, ao se perceber humana, sente-se cada vez mais distante do ideal de devoção da Santa Mãezinha. E por isso se culpa.
Mãe que comprou o sabonete com óleos essenciais, o iogurte com fibras, o desinfetante com cloro ativo, a fralda com bloquigel e mesmo assim seu filho não dormiu a noite inteira, seu marido se queixa e sua casa não é o templo limpo, perfumado e livre de insetos que aparece na TV.
Mãe mulher, dona de casa, profissional e amante, que segue passo a passo as dicas das revistas femininas para conciliar seus inúmeros papéis e virar “super”, mas ainda não encontrou sua capa.
Mãe cuja única preparação para a mais dramática mudança da sua vida foi o cursinho da maternidade e, se privilegiada, a decoração do quartinho e a compra do enxoval.
Mãe que vive em uma sociedade que a glorifica, ao mesmo tempo em que a obriga a terceirizar a criação dos seus filhos. Seja por necessidade, independência ou reconhecimento. Como se, em qualquer um desses casos, essa não fosse uma decisão extremamente difícil.
Mãe que se divide diariamente entre a administração do lar e da profissão, encarando múltiplas jornadas que a levam constantemente à exaustão física e emocional.
Mãe que se dedica de corpo e alma ao significativo projeto de criar uma criança, enfrentando um nível de cobrança superior ao de qualquer chefe ranzinza e cliente exigente. 365 dias por ano, 24 horas por dia. E mesmo assim é percebida como alguém que não faz nada. Até por si mesma.
Mãe pobre que, quando opta pelos filhos, é acomodada. Quando rica, é madame. E, quando profissional, é ausente.

MANIFESTAMOS PELA MATERNIDADE

E, portanto, pela liberdade de sentir. De seguir os instintos. De viver em plenitude emoções e sentimentos totalmente femininos. Pois negá-los, seria abrir mão daquilo que faz da mulher, um ser único.
Manifestamos pelo direito de cada mulher escolher o papel que melhor lhe cabe no momento. Sem se sentir pressionada, desmerecida ou julgada pelo que decidiu não ser.
Manifestamos por parir de forma saudável, humana e tranquila e que essa seja uma decisão consciente da mãe. Amparada por uma equipe de profissionais da saúde que a respeitam, orientam, acompanham e zelam pelo bem estar dela e do bebê.
Manifestamos pelo direito de amamentar a cria, sem ser pressionada por profissionais da saúde mal formados ou parentes bem intencionados, a substituir por mamadeira, o alimento que só o seu peito pode dar.
Manifestamos pela aceitação da metamorfose e da mudança de valores que a chegada de uma criança proporciona na vida de qualquer adulto. E pela valorização desta transformação na sociedade, como contraponto para a cultura do egoísmo e da juventude eterna.

MANIFESTAMOS PELO ATIVISMO ANÔNIMO E INCANSÁVEL DAS MÃES

Nas trincheiras domésticas de uma sociedade cada vez mais dominada pelas leis cruéis do mercado.
E apoiamos as mães que questionam. Que boicotam.
Que compram e deixam de comprar. Que sabem o que servem à mesa e o que jogam no lixo.
Que desligam a TV, controlam o videogame e a quantidade de açúcar.
Mães que tentam proteger a infância e não desistem diante do bombardeio de mensagens que estimulam a erotização e o consumo precoces.
Mães que empreendem, que inventam, que abrem mão, que buscam alternativas, que assumem o vazio e a sobrecarga. E promovem viradas.
Mães que brigam por uma escola melhor, mais humana e significativa; pública ou privada.
Que pensam globalmente e agem localmente, casa a casa, família a família.
E que administram seus lares, como se ali começasse a mudança que desejam para o planeta.

MANIFESTAMOS PELA TOMADA DE CONSCIÊNCIA FAMILIAR

Pela valorização do papel da mãe no seio da família e pelo fim das hipócritas tentativas de minimizar a diferença que a presença dela faz.
Pelo reconhecimento da vital importância da maternidade para a humanidade, e por ações sociais e políticas que valorizem e estimulem a atuação da mãe.
Por uma rede de relacionamentos que coloque novamente mulheres de diferentes gerações em contato, reconstruindo referências que foram deturpadas e estereotipadas pela mídia e pela sociedade.
Por mães unidas para estudar, compartilhar experiências e desenvolver novos pontos de vista para este tema milenar, universal e ainda tão incompreendido.
Por uma nova formação familiar, focada no bem estar integral dos seres humanos e não somente no bem estar material.
Por pais que valorizam a tomada de consciência materna, dando sua participação necessária para que ela floresça. Mesmo sem entendê-la completamente.
Por mães que partilhem com seus parceiros as responsabilidades, agruras e alegrias de se cuidar dos filhos, sendo entendido que eles pertecem aos dois, igualmente.
Manifestamos pela ausência de fórmulas, de guias práticos e de respostas prontas, pois cada mulher é livre para buscar seu caminho e desenvolver sua história. No seu tempo, no seu ritmo e na sua individualidade.
Manifestamos pela conciliação de uma maternidade moderna com uma maternidade mais plena.
Manifestamos por você e por nós. Pela Terra e por todos os filhos que dela vieram e ainda virão.

Manifestamos pelas mães!